quarta-feira, 29 de abril de 2015

Provisão De Fé / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - Rj

Provisão De Fé

Desconfio que tenho escrito demais
E decididamente não mais
Gastarei meus dias
À cata de palavras insanas,

Doidas para adornarem poemas
Com imagens fantasmagóricas
Ou levas de mortos
Em alguma guerra santa

Desses continentes arenosos
Vazados pela miséria,
Como se eu fosse burguês
daquelas estirpes nobres
cujos nomes dão arrepios,

sempre aflito com firulas
que poderão arranhar o poema
e deixá-lo menos clássico
ou modernista além da conta.

Desconfio que tenho imitado muito
Àqueles filósofos alemães
Que Marx denunciou tanto
Por viverem interpretando o mundo
Sem jamais darem descanso
A suas escrivaninhas
E ir às ruas

Sentir a temperatura do dia,
Auscultar as oscilações das bolsas,
Seus reflexos no preço do feijão
Entre outras coisas da vida real.

Hoje todos podem ter certeza,
Tornei-me realmente comunista,
Estou escalado em mutirão
Para trabalhar na cozinha
Do acampamento dos Sem-Terras
Por puro instinto solidário,
Enquanto eles aprontam
A próxima ocupação... 
***

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