quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Eu Por Mim / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - RJ

Eu Por Mim
*
EU POR MIM


O Rio Doce
Separou-me de mim
Ao cruzá-lo ontem
Quando parti
Rumo à manhã

Uma parte de mim
Foi-se direto
Para o agora

E a outra
Segue pulverizando-me
Parindo personas diversas

Enquanto eu menino
Está no Frei Inocêncio
Trocando beijinhos
Na pracinha da igreja

O eu adolescente
Sumiu nos guetos da urbis
Atrás de causas rebeldes
Sem jamais dar notícias

O resto de mim
Jaz por aí
Até qualquer dia
Eu encontrar comigo
E ver se decido
Convocar uma assembléia de mim
Para ver o que eu faço
Se me casso
Ou se me verso
Em ser homem disperso.
  


***

sábado, 2 de janeiro de 2016

Banheiro Público / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - RJ


Banheiro Público

Tinha que ser francês
O inventor do pão francês,
Do perfume francês,
Da champagne francaise,
Do soutien. da lingerie,
Do baton, da bijouterie,
E inventor ainda por cima
Do toilete...

Não vamos nacionalizar
A invenção do “viado”,
Mas que viado francês
É um viado sui generis,
Ah, isso lá é,
Como dizia meu avô.

Mas o pior disso tudo
É entrar em banheiro público
E encontrar lá dentro,
Como que nos aguardando,
Aquelas bichas acintosas
Nervosas que nem barata
Todas querendo ver
O “abrir do fechecler”,
Outra invenção francesa,

E expor a mixaria,
como raro souvenir...
É preciso ter fibra,
Ser macho mesmo,
E se proteger com cuidado,
Porque uma bicha no cio
Se mata por um piu-piu.

Desde minha infância
Não me esqueço do sufoco
Que passei no banheiro
da Central do Brasil
Com aquela fila de bichas
Olhando para o meu pinto... 
*