terça-feira, 4 de agosto de 2015

Idiossincrasias Populares/Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - RJ

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Idiosincrasias Populares


Dia desses eu lia
O “Diário de Trabalho”
De Bertolt Brecht
E soube que em 17/05/1942
O engraxate de seu amigo Kortner
Confessou que não era comunista,
Mas preferia o sistema russo.

E o engraxate do amigo de Brecht
Lembra-me o sargento do exército
Com o qual tirei plantão
Em 15/11/1972, como cabo,
Que dizia odiar o comunismo,
Que a URSS era uma ditadura
E defendia que o Brasil
Fosse governado por Fidel Castro
E o exército Brasileiro
Comandado por Chê Guevara.

E tanto o engraxate
Como o sargento
Têm algo em comum
Com o bispo cearense
Dom Hélder Câmara,
Odiosamente batizado pela direita
Como o “Bispo Vermelho”:
Todos almejam
Um mundo justo para todos.

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Provisão De Fé / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - Rj

Provisão De Fé

Desconfio que tenho escrito demais
E decididamente não mais
Gastarei meus dias
À cata de palavras insanas,

Doidas para adornarem poemas
Com imagens fantasmagóricas
Ou levas de mortos
Em alguma guerra santa

Desses continentes arenosos
Vazados pela miséria,
Como se eu fosse burguês
daquelas estirpes nobres
cujos nomes dão arrepios,

sempre aflito com firulas
que poderão arranhar o poema
e deixá-lo menos clássico
ou modernista além da conta.

Desconfio que tenho imitado muito
Àqueles filósofos alemães
Que Marx denunciou tanto
Por viverem interpretando o mundo
Sem jamais darem descanso
A suas escrivaninhas
E ir às ruas

Sentir a temperatura do dia,
Auscultar as oscilações das bolsas,
Seus reflexos no preço do feijão
Entre outras coisas da vida real.

Hoje todos podem ter certeza,
Tornei-me realmente comunista,
Estou escalado em mutirão
Para trabalhar na cozinha
Do acampamento dos Sem-Terras
Por puro instinto solidário,
Enquanto eles aprontam
A próxima ocupação... 
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sábado, 11 de abril de 2015

NAMORO FIRME / CANTO A ILU-AYÊ * Antonio Cabral Filho - Rj

-franciscozuniga-
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NAMORO FIRME

Durante o dia todo
Sonhamos um com o outro,
Somos o sonho um do outro
E à noite nos comemos
Com a fome de comer sonhos
Um nos braços do outro.

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

POEMEDO / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - RJ

-bbcbrasil-
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POEMEDO

A praça dos medos
A vila solitária
O beco do desespero
Eu não os conheci,

A auto-estrada infinita
A avenida sem destino
A marginal dos desvalidos
Não desejo conhecê-las,

Nem desejo conhecer
As praças da república
Onde se banham os pombos
E os miseráveis
De vossas megalópolis,

Sequer almejo passear
Pelas praças da liberdade
Ou pelas ruas da paz
Onde os pacificadores da ordem
Velam o sono dos senhores
Armados até aos dentes.

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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Desfile De Deuses / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - Rj

-imortaisdofutebol-
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DESFILE DOS DEUSES

Assim que a seleção pentacampeã
Chegou ao Brasil
E saiu em cortejo pelas cidades,
Flutuando na euforia popular,
Eu soube pelos meus botões
Que se Deus fosse burocrata
Nesse dia ele abandonaria o gabinete
E se juntaria aos seus iguais.

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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Poeta De Periferia / Canto A Ilu-Ayê * Antonio Cabral Filho - Rj

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POETA DE PERIFERIA

Nunca tirei um sarro
Nos bancos do Central Park
Nem aos pés da estátua da Liberdade,
Sequer algum dia
Imitei o Hugh Grant
Trocando boquete
Com alguma Divine
Nos arredores de Los Angeles,
Jamais mijei no Rio Hudson
Do vão central da Ponte do Brooklin
E nunca achei graça nenhuma
Em comer pipoca com bacon
No trem fantasma da Disney Wolrd,
Tampouco nunca peguei um breack-fast
Em qualquer lanchonete da Wall Street.
Mas ninguém se assuste
Com o meu desdém debochado
Pelas coisas suntuosas
Desse mundo consumista,
É que eu me sinto muito bem
Junto aos pés de cana
Dos butiquins pés sujos
Desses guetos suburbanos
Onde eu levo minha vida
De poeta proletário.
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terça-feira, 7 de abril de 2015

Evocação De Valadares / CANTO A ILU-AYÊ * Antonio Cabral Filho - Rj

-caminhosdeminas-
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Evocação de Valadares

A Pedra da Ibituruna
Lembra aquelas pretas velhas
Amuadas pelos cantos
Nas senzalas de Minas
Vergadas de tanto banzo
Por tanta escravidão
E deve ter ficado assim
Pretinha
             Talvez
                       De raiva
De tanto ouvir pedradas
Como noss’inhora, uai-sô, oh-moss
E tantos outros trens
Do idioma mineiro.
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segunda-feira, 6 de abril de 2015

CANTO A ILU-AYÊ * Antonio Cabral Filho - Rj

Canto A Ilu-Ayê
Antonio Cabral Filho - Rj
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CANTO A ILU-AYÊ

Negro é raiz da liberdade
Mais forte que qualquer outra
E faz nosso povo se unir
Hoje muito mais que outrora.
Porém, os chacais que o rondam
Ainda encontram lacaios
Contra o nosso porvir,
Pois quem nasceu para Judas
Não se cansa de trair.

Ilu-Ayê tem o sorriso negro
Pra fortalecer meus irmãos
E regar a flor da resistência
Desde a grimpa dos morros
Até a vereda mais úmida
Em prontidão na tocaia
Para emboscar bate-estradas
E avisar aos capatazes
Que quem brinca com corda
Acaba dependurado.

Ilu-Ayê tem o abraço negro
Pra fortificar os quilombos
E multidões de Zumbis
Com suas bandeiras erguidas
Pra celebrar nosso Rei,
Que deu seu sangue por nós
E merece glória eterna.


Ao cismar sozinho relembro
Que todo instante da vida
É sempre vinte de novembro
Com a dignidade iluminada
E o espírito pleno de Axé.

Pois nossa pele tem mais sol,
Nosso céu tem mais luar,
Nosso povo tem mais força
Quanto mais doar amor.

Não permita deus que eu morra
Sem que ainda faça um poema
Com maior engenho e arte
Que exalte Rainha Dandara,
Zumbi e Solano Trindade
Com uma imensa quizomba
Para alegrar nossa raça
E cantar pra Ilu-Ayê. 
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domingo, 5 de abril de 2015

CANTO PARA ILU-AYÊ - POESIA * Antonio Cabral Filho - Rj

CANTO PARA YLU-AYÊ
Livro de poesia do poeta 
Antonio Cabral Filho com 
temáticas da cultura negra
 em preparo.
https://antoniocabralfilhojr.wordpress.com/ 
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domingo, 1 de março de 2015

Concurso 1ª Antologia 100 Trovas Sobre Cachaca * Antonio Cabral Filho - RJ

Antologia Brasil Literário
Promove o Concurso
1ª Antologia 
100 Trovas
Sobre Cachaça
http://antologiabrasilliterario.blogspot.com.br/ 
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Organização
Antonio Cabral Filho

Rio de Janeiro – RJ 
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