sexta-feira, 30 de julho de 2021

Alguns poemas * Antonio Cabral Filho / RJ

ALGUNS POEMAS


EU POR MIM


O Rio Doce
Separou-me de mim
Ao cruzá-lo ontem
Quando parti
Rumo à manhã

Uma parte de mim
Foi-se direto
Para o agora

E a outra
Segue pulverizando-me
Parindo personas diversas

Enquanto eu menino
Está no Frei Inocêncio
Trocando beijinhos
Na pracinha da igreja

O eu adolescente
Sumiu nos guetos da urbis
Atrás de causas rebeldes
Sem jamais dar notícias

O resto de mim
Jaz por aí
Até qualquer dia
Eu encontrar comigo
E ver se decido
Convocar uma assembléia de mim
Para ver o que eu faço
Se me casso
Ou se me verso
Em ser homem disperso.

MEMORIAL


Malcom X
Martin Luther King
Fred Hampton
Stive Biko
Maurice Bishop

Patrice Lumumba
Samora Machel
Amilcar Cabral
Mahatma Gandhi
Jonh Lenon

Victor Jara
Che Guevara
Irmãos Peredo
Carlos Marighela
Carlos Lamarca

Sônia Angel
Stuart Angel
Padre Josimo
Irmãos Canuto
Chico Mendes
Sebastião Lan
.......................
.......................
Galdino Pataxó
E tantos outros

Que decidiram desatinar
Os contentes do coro,
Avisem para a história
Não se esquecer de mim.


TRISTEZA DO SUAÇUÍ



Escorrem sonsas
As águas do Suaçuí
Lambendo de mansinho
As partes das lavadeiras
Do cansado Frei Inocêncio.


Passa tropa de carvão,
Carro de boi lotado
Gemendo no estradão,
Cheiro de leite no vento
Caminhão por caminhão,
Nuvens de bóias-frias,
Procissão de camponesas
Com trouxas na cabeça


... e o passado apagou tudo.

O moderno veio sorrateiro
Secando o Suaçuí,
Encardindo as casas caiadas
Da velhice do Frei Inocêncio
Com seus velhos nas janelas
E suas netas indo pra zona.


E o presente saiu de fininho
Lá pras cidades grandes
Com legiões de bóias-frias
Embaixo dos viadutos
Em busca do futuro...


CANÇÃO DO PRETO INÁCIO

Nasci nos caminhos de dentro
Que ligam Minas Gerais à Bahia.
Ali pelas imediações do Suaçuí,
Lugar de muita casa grande
E senzalas mais ainda.

De início éramos todos lavradores,
Gente de lida que os senhores arrebanham
Com ajuda dos bate-paus,
Ora pegos em quilombos
Ora arrematados em leilões
Feitos pelos negreiros à beira dos cais.

Mas de tempos em tempos
Alguém saía de trouxa nas costas
Pendurada no pau de dois bicos,
Como fez o Preto Inácio
Que nunca mais deu sinal.

Quando fugia, dizia-se
Que fez poeira;
Quando saía por conta própria,
Dizia-se que foi pra vida;
E, quando era posto pra fora,
Buchichava-se à boca miúda:
Foi vender puáia,
Que era como tratavam
Esses pretos velhos
Vendedores de raízes
Nas feiras da cidade.

Entre uma leva e outra
Dessa gente que partia
Fui aprendendo com a vida
Lição por lição de partida
E assim que peguei tope
Aprontei meu pau de dois bicos
E fiz poeira,
Fui pra vida



Vender puáia. 

sábado, 11 de março de 2017

Memorial * Antonio Cabral Filho - Rj

MEMORIAL


Malcom X
Martin Luther King
Fred Hampton
Stive Biko
Maurice Bishop

Patrice Lumumba
Samora Machel
Amilcar Cabral
Mahatma Gandhi
Jonh Lenon

Victor Jara
Che Guevara
Irmãos Peredo
Carlos Marighela
Carlos Lamarca

Sônia Angel
Stuart Angel
Padre Josimo
Irmãos Canuto
Chico Mendes
Sebastião Lan
.......................
.......................
Galdino Pataxó
E tantos outros

Que decidiram desatinar
Os contentes do coro,
Avisem para a história


Não se esquecer de mim. 
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